Buenas!
Celebrando um dia de grandes, e boas, mudanças, e pela talvez partida de Marcello (Marcello é meu violoncelo, ou era), um disco formidável que junta tudo numa obra só. Inclusive as duas idades que se dividem. Em homenagem ao seu primeiro Tropicália, quando tinham 25 anos cada, Caetano e Gil fizeram essa capa, uma fusão das imagens dos dois e das idades, 50 e 50, que divididas voltam a ser 25.
Pirações à parte, o álbum começa com uma das melhores letras escritas em conjunto por esses dois, tão boa - e apropriada/atual etc, até como crítica ao compositor que parece ter se esquecido de boa parte disso tocando na inauguração de um novo megacondomínio, que desapropriou uma imensa comunidade do terreno invadido no real parque/morumbi/panamby ou adjacências - que eu vou até deixar a letra aqui.
Até.
Haiti
(Caetano Veloso / Composição: Caetano Veloso e Gilberto Gil)
Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São PauloDiante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
Ouçam. Desfrutem. Absorvam.
1.Haiti
2.Cinema novo
3.Nossa gente
4.Rap popcreto
5.Wait until tomorrow
6.Tradição
7.As coisas
8.Aboio
9.Dada
10.Cada macaco no seu galho (Cho chuá)
11.Baião atemporal
12.Desde que o samba é samba
l i n k
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